12 de setembro de 2009

Homo Paradoxal

Neste dia eu estava em meu quarto fazendo alguma coisa da qual não consigo me lembrar. Acho que estava lendo ou me concentrando em alguma coisa quando percebi que meus pais começavam a discutir novamente. Aquilo praticamente fazia parte do meu cotidiano. Sempre começava com a minha mãe falando alguma coisa mais ríspida com meu pai ou ele tentando atiçar alguma briga desnecessária.

Mas aquele dia seria diferente, seria mais aterrorizador do que nunca. O incrível é que não me lembro do 'por que' da briga. Parece que eu bloqueie da minha mente a causa.Só consegui guardar em minha memória as consequências daquela noite.

Sempre que meus pais brigavam, eu não conseguia fazer nada além de escutar o que diziam. O medo percorria minha alma como o sangue viaja pelas artérias. E, de novo, eu estava com os ouvidos naquelas palavras que foram esquecidas. Acho que a briga começou na sala, com algumas palavras ofensivas. Minha mãe se encaminhou para seu quarto fazendo de seus pés palavras de irritação. Segundos depois pude ouvir os mesmos tons de irritação vindo das passadas mais fortes e selvagens que pareciam um animal descontrolado indo em direção à sua presa, era meu pai. No momento em que pude ver sua figura passar em frente à porta do meu quarto, pude ver a fúria desfigurando seu rosto e consegui sentir o gosto amargo do ódio que ele exalava. Percebi, nesse momento, que nunca mais poderia esquecer-me desse rosto. A meu ver, aqueles olhos cor ocre estavam tingidos de vermelho-sangue. Em um segundo pude notar que o álcool, mais uma vez, tomava conta daquele ser que eu não reconhecia como pai.

Quando ele entrou no quarto de minha mãe, começaram os gritos dos dois e eu não consegui distinguir o certo do errado naquele meio confuso. Ele estava parado um pouco a frente da entrada do cômodo, enquanto minha mãe se encontrava sentada em sua cama e eu... Eu nem senti meu corpo se movendo em direção daquele caos. Via em minha mãe a rebeldia e a passionalidade travando uma guerra em seu ser. Ele gritava e ela também.

Percebi que meu irmão estava ao meu lado e seu rosto demonstrava a cópia do que eu sentia. Medo, horror, vergonha, fúria domada, revolta, dor, fraqueza. Percebi também a minha debilidade ao olhar para o grande homem que meu irmão se tornara e registrei em meu ser que eu nunca poderia proteger quem eu amo do jeito que os olhos dele queriam proteger. Percebi que meu corpo nunca poderia servir de escudo para quem merecesse a minha compaixão. O meu medo se transformou em ódio, mas não ódio daquele que fazia da minha casa um inferno. Tive ódio de mim mesma. Da minha incapacidade como mulher. Da minha fraqueza física. Da minha magreza excessiva. Esses momentos vieram em poucos segundos e essa rapidez embolou mais ainda minha cabeça. Eu só queria que tudo acabasse. Perguntava-me o ‘por que’ como o Papa reza para Deus.

Pensamentos nada castos vinham em minha mente já perturbada. Imaginava-me matando, trucidando, esquartejando. Meus olhos afogados em lágrimas viam o que não queria ver. Minha mente dizia uma saída, mas meu corpo estava pregado ao chão frio da minha covardia. Mais gritos e começaram as ameaças contra minha mãe. Ameaças físicas. Primeiro ele arremessou um pote de creme mais próximo a ele. Errou. O intuito era avisar. Não quis acertar em primeiro momento. Ele queria calar o que ela falava. A verdade que ela gritava. O aviso foi ignorado com mais gritos corajosos dela. E ele se virou furiosamente, assim, empurrando meu irmão e eu para que ele pudesse passar. Quando percebi o que ele planejara, meu cérebro não conseguiu mais entender a palavra 'lógica'.

Ele foi para sala, se inclinou em sua caixa de ferramentas e se pôs a procurar alguma coisa da qual não entendi até ele se levantar com o martelo em sua mão direita. Automaticamente, meu irmão foi para cima dele tentando defender minha mãe e eu. Mesmo meu irmão sendo muito mais jovem, meu pai tem seus músculos mais trabalhados que o de James. Era um empate. Não gosto de lembrar da raiva que via em ambos os rostos, mas garanto que se eu pudesse ver MEU rosto, veria semelhança no estado.

 Isso tudo aconteceu em poucos segundos e quando me vi, estava indo para cima daquele que fazia o problema. Mesmo com a fraqueza da minha carne, desferi o pouco da minha força para ajudar naquele embate violento. Os gritos de minha mãe ecoavam distantes para mim. Ela pedia para pararem. Pedia em nome de Deus. Mas, naquele momento eu podia até dar nome ao Diabo.

Não consigo lembrar-me como terminou esse episódio.  Acho que quis esquecer ou o excesso de informações daqueles momentos me sugaram as energias mentais.

Um comentário:

Anônimo disse...

Linda menina, acho que quase sempre passamos por situaçóes que não queremos e pela qual não temos culpa, no caso essa briga dos seus pais.Acho que você não tem culpa nenhuma do que aconteceu e nem culpa por não poder fazer nada para parar essa briga com as próprias mãos.Mas creio que tem um Deus maior do que todos esses problemas, basta você crer Nele pois o possível você faz e o impossível quem faz é DEUS.Fico pensando como as pessoas podem esquecer de DEUS a achar que podem fazer tudo sem ELE,mas na hora de perguntar: Porque estou sofrendo isso? ou outra pergunta como será que Deus não está vendo o que está acontecendo comigo? e etc.... por que as pessoas não perguntam o que estou fazendo contra o nosso Deus?porque não deixo ele participar da minha vida quando estou bem e faliz? porque só lembram de DEUS quando estam sofrendo? e ainda tem alguns que nem perguntam nada pois se acham autosuficientes e que Deus não existe.Fica aqui o que acho e espero ter ajudado de alguma forma.Beijos Cristina(Crisgaranito@hotmail.com)