Os olhos da raivas perseguem meus pensamentos quando penso na sua mediocridade.
Esses olhos da cor da rejeição
Tão escuro quanto o negro céu que promete tempestades
Tão claro quanto à límpida lágrima que você não se permite sentir.
De que adianta mascarar a dor?
Se as sua ações são refletidas do caos do seu inconsciente desfigurado.
Eu sei que antes de me machucar você foi machucada.
Antes de me condenar a sua moral imposta pelo medo fizeram o mesmo com você um dia.
Acho que você desistiu de viver muito antes de imaginar.
Aqui tem tudo aquilo que eu penso através dos seus olhos. Não pretendo dizer todas as palavras e, sim, todos os sentimentos. Leia com atenção, pois eu posso dizer o que você sente.
25 de janeiro de 2010
9 de janeiro de 2010
LIVRE ARBÍTRIO
Sabe, sempre fui uma pessoa meio desmemoriada. Esqueço-me facilmente dos fatos. Acho que é porque sou meio lerda e passo mais tempo em mim mesma do que na realidade. Desde sempre fui assim, desde sempre mesmo, mas poucas memórias da minha infância ainda sobrevivem e uma delas foi a Karen.
Antes de falar sobre ela gostaria de contar o porquê de eu estar aqui, relembrando de uma pessoa que provavelmente nunca mais verei. Calma, senhor leitor. Você não irá ler alguma história interessantíssima sobre algum romance lésbico. Meu intuito é descrever o pouco do que sei sobre mim. Quero que as pessoas entendam o começo da teoria da minha bissexualidade. Quero que o leitor possa imaginar o pouco da confusão que sempre se instalou na minha psique.
Sempre fui uma garota tímida e recolhida em todos os lugares. Eu tinha noção que todos me conheciam. Conheciam meu nome, meu rosto e o mesmo acontecia da minha parte para com eles, mas eu sempre me senti deslocada. Eu não era de conversar com todos. Acho que minhas primeiras lembranças foram do medo do que as pessoas iriam pensar de mim. Por vezes eu pude presenciar minha avó falando que os homossexuais eram doentes e tantas outras que deveriam ir para o inferno e quando atingi certo nível de lógica para perceber o que era isso que minha avó tanto jogava fogo, eu, criança que era, só entendia que essas coisas eram ruins. Mas não ligava até certo ponto, eu só não queria que as pessoas soubessem.
Aquela época foi conturbada na minha vida, porém eu não entendia a maior parte de tudo o que acontecia. O que eu queria era brincar, era o que eu mais gostava. Em minha sala de aula da escola, eu sempre gostava de falar com ela. Karen. Éramos amigas. Brincávamos juntas. E mesmo não tendo noção de como as coisas aconteciam, sempre que me encontrava com ela, sentia vontade de repetir aquelas palavras mágicas que eu somente conhecia em histórias de contos de fada e nos filmes: Eu só queria dizer que eu a amava. Nunca tive coragem de pronunciar o que queria realmente dizer. As palavras da minha mãe e da minha avó ecoavam em minha cabeça e eu pensava estar errada. Eu não sabia o verdadeiro por que de ‘estar’ errada. Era como se tivessem me ensinado quanto é dois mais dois sem ter explicado o porquê de ser quatro. Mesmo sem entender, sei que a Karen foi o meu primeiro amor (platônico, eu sei). Fomos da mesma sala por anos seguidos do primário até que tive que ir morar com minha avó no interior do estado, logo tive que sair da escola. O que mais doeu foi ter que me separar dela. Saí daquela escola sem dizer o que ela significava para mim.
Passaram-se as férias de meio de ano e embarquei em uma nova escola. Não faço idéia de quantos anos eu tinha na época, sei somente que eu estava na antiga terceira série. Caí de paraquedas em uma escola evangélica e em uma sala de aula onde todos se conheciam. Eu ainda sentia falta da Karen, mas fazer o que, né? Tímida como era, demorei a fazer amizades, mas me aproximei muito rápido de um garoto. Wadan. ( nome estranho, né?) Foi por ele que o meu coração infantil se apaixonou. Nós éramos amigos também e eu lembro de dar várias e várias gargalhadas com ele. Não tive muitos dilemas com os meus sentimentos para com ele uma vez que eu não achava que iria para o inferno por estar gostando dele.
Querido leitor, por enquanto contar esses pequenos trechos da minha vida já basta para exemplificar a minha real intenção de fazer este post. Não sei o porquê de ter começado a minha atração por meninas, mas uma coisa eu sei: Passei muitos anos da minha adolescência me odiando por ser o que sou. Confesso que não gosto do fato de ter nascido mulher. Não gosto dessa fragilidade e inconstância de hormônios. Não gosto dessa enrolação feminina. Não gosto desses adjetivos em mim. Mas nasci mulher e tenho que lidar com isso, gostando ou não.
Em minha opinião, qualquer ser humano está apto a ter atração sexual por ambos os sexos. O problema está nos conceitos que aprendemos como o certo e errado. Acompanhe o meu raciocínio senhor leitor: Imagine se colocarmos duas crianças nos seus primeiros anos de idade para viver em uma ilha deserta. Dois meninos para ser mais exata. Os dois crescem juntos, convivem todos os dias sem interferência da sociedade. Imagine os dois já adolescentes e a testosterona de ambos está à flor da pele. O que aconteceria, senhor leitor? Eles cederiam aos prazeres do sexo ou se colocariam a pensar se o que queriam fazer era uma blasfêmia e se iria trazer a ira de Deus?
Será que todos seres humanos nascem com sentimentos homofóbicos? Acho que essa forma de ver o mundo é aprendida e passada assim como certas manias são passadas de pessoa para pessoa.
Muitos pais preferem renegar seus filhos a ter um homossexual como prole. Muitos pais preferem se iludir achando que homossexualidade é fruto da influência de terceiros quando se deparam com tendências homossexuais em seu filho (a). Mas o que eles não conseguem, ou não querem, ver é que quanto mais impõem suas opiniões aos filhos, mais eles irão se afastar deles. Mais terão sentimentos de mágoa podendo até chegar a ódio.
Não estou dizendo, querido leitor, que os pais devam aceitar a homossexualidade como o certo. Isso não, pois iriam trair as próprias verdades. O que quero dizer é que deveriam respeitar. Ninguém escolhe a sua opção sexual ao nascer. Se escolhessemos, eu pediria para ser heterossexual. É mais fácil andar conforme a massa.
E VIVA O LIVRE ARBÍTRIO!
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