4 de julho de 2009

Ataque de Pânico - Metro (2)

Depois da quinta feira em que passei mal no curso faltei as aulas de sexta e de sábado. No domingo já me sentia melhor. Já comia sem fazer cara feia. Logo quis voltar a minha rotina de pré-vestibulanda, ou seja, ir para o curso. Segunda me levantei disposta - dessa vez de verdade. Me senti bem - pelo menos até chegar a sala de aula. Eu não estava me sentindo mal fisicamente ao prestar atenção nos professores. O sentimento era diferente. Era como se eu não pertencesse aquele lugar. Como se eu fosse um estranho naquele mundo de paredes azuis. Uma certa angústia me incomodava constantemente. Sem motivos, comecei a analisar as pessoas que eu conhecia e até as que nunca troquei uma palavra. Uma a uma. Eu analisava. Repassava momentos em que eu as observei ou conversei. Era como se eu estivesse selecionando cada indivíduo daquele lugar. Nem os professores escaparam da minha mente sinuosa. Meus pensamentos estavam a mil. Lembranças iam e voltavam. Coisas positivas e negativas iam e vinham formando opiniões. Eu estava confusa. Aqueles sentimentos me eram intrigantes. Era como se, a cada pessoa daquela sala, eu atribuía uma cor. E cada cor tinha uma legenda. Fitas coloridas rodeavam cada pessoa. E cada pessoa significava alguma coisa. Sem desconsiderar a grandeza de cada uma delas. Não me entendam mal, por favor. Em nenhum momento quis subjugar aquelas pessoas. Eu só estava comparando as verdades deles com a minha verdade. Não se preocupe. Nem eu estou me entendendo.Esse momento de auto reflexão foi tão intensa que ignorei o mal estar que sentia. Quando dei por mim, comecei a sentir leves tonturas (nada que chegasse aos pés da semana anterior) e, automaticamente, saí da sala. Fiquei um bom tempo lá fora sem fazer nada, esperando a aula terminar. Ao falar com a minha mãe sobre o que aconteceu, ao chegar em casa, resolvemos consultar um médico. Estava decidido.

No outro dia, terça-feira, faltei o curso de novo e, ao acordar, me sentia estranha. Desanimada. Sem rumo. E, definitivamente, não queria sair de casa. Mas é incrível como tudo tem que dar errado comigo. Pois, naquele dia, a minha mãe cismou que eu tinha que ir com ela à casa da minha avó. Tentei demonstrar a ela o meu excelente estado para ir, porém ela pareceu ignorar. Levantei-me e, lentamente, comecei a me arrumar. Quando estávamos prestes a sair ela me comunicou que íamos de metro. Assenti com certa má vontade e fomos.

Antes de continuar a história gostaria de deixar claro que eu NUNCA gostei de lugares fechados, ainda mais cheios. Ou seja, para mim, metro é totalmente dispensável. Mas isso nunca fez com que eu deixasse de ir quando precisasse. Nunca tinha sido, até então, um empecilho para mim. Aliás metro não é a única coisa que me deixa desconfortável. Elevadores, lugares abertos, porém muito cheios, shows lotados etc. Me deixam desconfortável, entretanto, sempre lidei com esses lugares. É um tipo de claustrofobia controlada.

Voltando ao ponto principal, eu e minha mãe indo ao metro. Eu posso comparar o meu estado de espírito com o tempo que fazia naquele dia. Estava nublado e batia aqueles ventos que fazem você se arrepiar todo. Chegamos ao metro e a minha auto estima ficou deitada na minha cama, dormindo. Subimos à estação e andaaaaaaamos até quase o final para nos sentarmos e esperar os vagões chegarem. Esperamos naquela plataforma anormalmente fria. Eu estava entediada. Lembro-me que estava escutando a música Cassis no MP4 quando a lata de sardinha ambulante resolveu chegar me fazendo morrer de frio com o vento que ele trouxera consigo. Quando coloquei o pé naquele lugar, que me traz arrepios, comecei a suar frio, mas não deixei transparecer. Fiquei impaciente para sair logo dali. Era o que eu mais queria. Para o meu completo azar a gente teria que fazer a baldeação, ou seja, a minha dor iria continuar. E foi o que aconteceu. O pior é que o metro nem estava cheio.

Fomos em direção a segunda - e pior - fase do Apocalipse para a Jessica. Primeiro subimos aquelas escadas enooooooooooooooormes e quando chegamos lá em cima ainda tivemos que esperar o próximo vagão chegar. Repito, o metro não estava cheio, mas quando os vagões chegaram as pessoas se aglomeraram como se fossem hemácias aglutinadas. Quando eu vi aquelas pessoas ao meu redor que pareciam olhar, vidradas, para a pequena entrada que iria se fechar em poucos segundos. Segundos. Aconteceu tudo em poucos segundos. Eu dei um passo em direção ao vagão com a intenção de entrar. Há! (Como diz o Bruno) Só ficou na intenção. Parecia que o meu corpo congelara. Eu estava suando e só conseguia pensar "EU NÃO VOU ENTRAR AI! É MUITO APERTADO! NÃO! NÃO! NÃO!" Automaticamente recuei. Eu me senti um animal indefeso. Impossibilitado de fazer alguma coisa. Comecei a suar e a tremer. A minha visão ficou meio turva. Olhei para minha mãe e disse que não iria entrar lá. Pedi para irmos no próximo. Acho que eu estava com cara de assustada, pois a convenci rapidamente. Ela, serenamente, disse que podíamos ir no próximo e que não tinha problema. Resolvendo isso, ela me encaminhou em direção aos bancos da plataforma. Eu me sentei, mas sentia um arrepio extremamente incomodo que parecia subir e descer na minha coluna. Eu queria ir embora. Sabia que não devia ter saído da cama. Depois de algum tempo a estação deu o sinal que outro metro estaria chegando. Não foi nenhum sinal sonoro não. O que me fez pensar assim foram as pessoas que chegaram em peso na plataforma. Foi só olhar para eles que pude perceber o som dos trilhos. Nesse momento todos os meus sentidos estavam aguçados. Todos. Mas eu decidi enfrentar. Me levantei e me pus a esperar aquele monstro gelado abrir as suas portas. E ele, parecendo rir da minha fraqueza, fez o esperado. As pessoas, de novo, se aglutinaram para entrar naquele pequeno espaço. E eu, corajosamente, dei dois passos em direção ao vagão, mas nesse momento meu coração se acelerou, parecia que tinha alguma coisa entalada na minha garganta, me senti extremamente enjoada, a minha respiração começou a ficar pesada e difícil e ondas de calor pareciam passar por mim como se fosse vento. Tudo aconteceu em poucos segundos e intensamente. Eu só queria sair dali. Eu precisava sair dali. Eu virei para minha mãe e somente disse 'eu não quero entrar ai' e repeti essa frase como se fosse uma reza. Ela concordou e, automaticamente, me dirigi as escadas.

De todos, esse foi o pior momento, pois eu me senti a pessoa mais fraca da terra. Eu senti uma angústia e frustração que pareciam que me empurravam para um grande precipício. Esses sentimentos se traduziram em lágrimas. Lágrimas que eu tentava conter, mas elas me traiam e pareciam jorrar de meus olhos. Eu subi as escadas como se fosse um nada. O nada que não conseguia entrar em um metro. Me dei conta de várias coisas ao mesmo tempo. Eu estava tremendo e me sentia gelada por dentro e por fora. Me dei conta que eu poderia nunca mais entrar em um metro. Eu não sabia o que tinha acontecido. O porque de tudo.


Mas eu sabia que o meu problema era psicológico. E ele não iria me vencer.

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