11 de julho de 2009

Amor às avessas

Era fim de tarde quando Miro saiu de casa para o seu tão esperado encontro. Ele mal podia esperar estar com o seu amor sem ter que evitar o contato físico entre os dois. O momento que eles podiam libertar o sentimento, que eram obrigados a esconder, eram raros, porém era aproveitados cada instante. Estar com seu pequeno tesouro era a única coisa que ele queria na vida. Chris o entendia e não precisava de palavras para tal. A urgência dos dois em se amar era como se o fim estivesse tão próximo quanto da última vez que se tocaram. Era essa urgência que o fazia praticamente correr para o lugar em que se encontrariam naquela noite que prometia a fuga dos problemas da vida. Fuga do preconceito daquele amor que todos julgavam errado e incoerente.

Miro sabia que seu amor era errado. As tais convenções não "o permitiam" amar Chris. Sua família o condenava pela sua opção sexual e ele sofria por isso desde criança. Não era fácil ter uma opinião tão radicalmente diferente naquela época em que a mentalidade das pessoas era fabricada através dos meios de comunicação ou até pelos sermões que nos são imposto desde que somos inocentes crianças. Miro tinha noção do que poderia acontecer se ele e Chris fossem encontrados. Seriam separados. Nenhuma das famílias iriam facilitar o amor deles dois.

Quando era pequeno, Miro sempre foi perseguido por ser diferente e ele demorou a entender que não podia contar o que sentia para todos porque eles o maltratavam por isso. Ele era perseguido por seu amigos de escola e pela sua família. Miro sempre foi considerado a maçã podre da casa. Seu pai constantemente o espancava quando o menino demonstrava algum 'desejo errado'. E ele cresceu assim, escondendo 'o seu pensamento incorreto' e foi se adequando aos parâmetros de sua família e da sociedade.

Mesmo arfante, Miro, se sentia a pessoa mais feliz do mundo em saber que estaria com o seu grande amor em pouco tempo ao parar para respirar em frente da casa que ele sabia que Chris o esperava. Pronto. Ele sabia que, nos braços de Chris, o mundo se dissolveria e eles iriam se tornar uma só alma. Miro abriu a porta já com o sorriso da felicidade no rosto ao se deparar com a horrível cena que se instalava na sala da pequena casa...

Chris se encontrava aparentemente desmaiada no chão. Miro tentou correr em direção a sua amada, mas sentiu uma forte pancada em sua nuca que o fez desmaiar instantaneamente...

"Encaixotem os livres
Desinfectem os cantos
Estuprem as mulheres
Brutalizem os homens
Despedacem os fracos

Enfeitem a moda
Sodomizem as crianças
Escravizem os velhos

Fabriquem as armas
Destruam as casas

Façam render a guerra
Escolham os heróis


E queimem as bruxas

Deixa queimar...

E queimem as bruxas

Quem vai queimar?


Empurrem conselhos
Forneçam as drogas
Engulam a comida
Disfarcem bem a culpa
Protejam a igreja
Perdoem os pecados
Condenem os feitiços

Decidam quem vai morrer
Contaminem a escola
Violentem os virgens
Aprisionem os livros
Escrevam a história

Quem ordena a execução

Não acende a fogueira"

Miro desperta desnorteado sentindo sua nuca pulsar e latejar. Sente-se tonto e demora para se dar conta do que está a sua frente. Miro está deitado no chão frio e sua pequena e indefesa Chris estava estirada a sua frente, nua e com seu corpo dilacerado. Cortes fundos maculavam aquele corpo perfeito. Depois de alguns instantes Miro percebera que além de ferida, a pele de Chris, estava arroxeada. Mas não era o roxo de um machucado. Era o roxo da putrefação. Miro sentiu sua nuca latejar ainda mais com a revelação. Chris estava morta. Morta...

- Aaaaahh olha quem resolveu acordar! O menino que gosta de chupar uma boceta. - Cuspira o homem que estava sentado em umas das poltronas do pequeno cômodo.

-P-porque você fez isso, pai? - Parecia que tinham congelado a expressão de Miro. Seus olhos estavam arregalados mirando a moça em sua frente e, sem perceber, grossas lágrimas corriam em seu rosto que parecia estar anestesiado assim como o resto de seu corpo.

- Isso que dá ser uma aberração! Vocês estão pagando por estarem desobedecendo às ordens de Deus! - Gritou o homem. - Eu não sei aonde você aprendeu a ser o que é, não foi comigo! Eu não te ensinei gostar de 'mulhé'! Eu devia ter batido mais em você quando era criança, seu bastardo! - Ao falar isso, o homem, se levantou e chutou com força as costelas de Miro. Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco chutes. Miro sabia que ia morrer.

Miro não conseguia entender como ele podia ter feito o que fez. Sua vida estava acabada. Preferia a morte a ter que viver naquele mundo de preconceitos ainda mais sem ter Chris ao seu lado. E foi a morte que fez o favor para Miro em vir buscá-lo.

Fim.

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Manchete do dia seguinte:

"Casal se mata por não aguentarem a vergonha de serem heterossexuais.

Hoje em dia o índice de pessoas que tiram suas próprias vidas por serem um estorvo para a sociedade é alto. Graças a Deus que eles, pelo menos, tinham a consciência da aberração que são......"

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Moral da história:
João agora é Maria e vice-versa.

Trechos da música 'Quem vai Queimar' da Pitty.

4 comentários:

M., Fabio de Oliveira disse...

CARALHO- Bem escrito... Além de ser uma história TOTALMENTE diferente das que eu já li, e das que você também, obviamente. \õ/

Só não entendi a história. xD /burro

@Mahr_ disse...

CARALHO [2]
Achei linda a escrita *-----* a história é meio triste e eu amei também. Lança um Bestseller. õ/

Fodão :)

l disse...

Gostei, ta muito bem escrito. Sem contar que realmente da vontade de ler até o fim... não fica uma coisa repetitiva, a história é um tanto estranha, mas realmente gostei.

mfelipebarbosa disse...

chris: ambiguidade bem empregada no texto.. adorei a descrição e a musik no meio do conto, eu o vi como se fosse um filme na minha frente adorei!!!